Um estudo publicado no Journal of the American Pharmacists Association reflete o resultado positivo das intervenções, baseadas em evidência, implementadas pelos farmacêuticos, permitindo uma melhor avaliação dos resultados inerentes à prestação de cuidados farmacêuticos, através de evidências sustentadas que valorizam a profissão farmacêutica e reforçam o seu posicionamento no ecossistema de saúde.1
A criação de uma rede colaborativa entre as farmácias – e entre as farmácias e várias entidades do ecossistema de saúde, academia, centros de investigação e indústria – confere a dimensão (escala), descentralização (representatividade) e padronização (normalização de procedimentos) necessárias aos métodos de investigação e desenhos de estudo mais robustos, além de maior agilidade no processo.
À semelhança do que se verifica nos ensaios clínicos multicêntricos conduzidos em ambiente hospitalar para demonstrar a eficácia e segurança de medicamentos, as farmácias reúnem as condições para realizar ensaios ou estudos observacionais multicêntricos para demonstrar a efetividade e a segurança dos medicamentos e outras tecnologias de saúde após a sua introdução no mercado.
A literatura e a prática demonstram que os farmacêuticos reconhecem a importância e interesse da investigação em farmácia para o desenvolvimento da prática profissional, a criação de valor em saúde (através de melhores cuidados e mais informação) e a afirmação da profissão. Não obstante, também identificam que a falta de tempo, de recursos humanos, a complexidade dos procedimentos e a articulação das atividades de investigação com a restantes atividades do dia-a-dia da farmácia constituem barreiras à sua participação mais ativa.2–5 Naturalmente, estes fatores impactam diferentemente as várias farmácias e respetivas equipas, consoante a sua dimensão, localização, vocação/orientação (mais comercial/mais profissional), etc., pelo que se torna necessário compreender de que forma os diferentes perfis de farmácia podem participar neste tipo de atividades.
É igualmente vital promover a capacitação da rede de farmácias e dos profissionais para o envolvimento em investigação, dotando-os de competências de investigação (ex.: métodos de investigação, métodos de recolha de dados, princípios éticos e boas práticas de proteção de dados e segurança da informação, etc.) e criando ferramentas que, suportando estas atividades, simplifiquem os processos e melhorem a articulação com a restante prática, aumentando a probabilidade de envolvimento, como protocolos ou instrumentos de recolha de dados integrados no sistema informático da farmácia.
Embora não seja o principal fator de motivação para o envolvimento em investigação, a remuneração ou financiamento destas atividades são também relevantes do ponto de vista da sustentabilidade e sê-lo-ão cada vez mais, à medida que se transite para modelos de remuneração mais assentes no valor e nos serviços. A título de exemplo, no Reino Unido, os farmacêuticos comunitários são apoiados para desenvolverem estudos de investigação, criando uma lógica de rede de farmácias de investigação, no âmbito de RWE e VBHC, expandindo o contributo diário destas equipas junto do cidadão.6 Esta atividade é refletida contratualmente com o NHS e permite que exista, com base em evidência, uma maior consciencialização dos custos e da rentabilidade das iniciativas implementadas no contexto das farmácias comunitárias.
Em 2016, para os farmacêuticos interessados na investigação, a Royal Pharmaceutical Society desenvolveu um Centro de Recursos de Investigação, com o objetivo de incentivar os farmacêuticos a envolverem-se na investigação em farmácia e de apoiar aqueles que estão interessados em desenvolver este aspeto na sua carreira profissional.7 Neste sentido, também, entidades como a Pharmacy Research UK, pretendem desenvolver a capacidade de investigação farmacêutica através da criação de bolsas de investigação para estudantes e de financiamento para investigação em contexto de pós-graduação.8
Em suma, fomentar e apoiar iniciativas de investigação baseada nas farmácias, na lógica da criação de uma rede de farmácias de investigação, é um passo que deve ser tomado em prol de um sistema de saúde baseado em valor e centrado na pessoa e do desenvolvimento e afirmação profissional das equipas das farmácias.
1. Jean-Venable ‘Kelly’ R. Goode, Mott DA, Chater R. Collaborations to facilitate success of community pharmacy practice-based research networks. Journal of the American Pharmacists Association 2008;48:153–62. doi:10.1331/japha.2008.07139. 2. Crilly P, Patel N, Ogunrinde A, et al. Community Pharmacists’ Involvement in Research in the United Kingdom. Pharmacy (Basel) 2017;5:48. doi:10.3390/pharmacy5030048. 3. Kuipers E, Wensing M, De Smet PAGM, et al. Barriers and facilitators for community pharmacists’ participation in pharmacy practice research: a survey. Int J Pharm Pract 2019;27:399–402. doi:10.1111/ijpp.12522. 4. De Vera MA, Campbell NKJ, Chhina H, et al. Practical strategies and perceptions from community pharmacists following their experiences with conducting pharmacy practice research: a qualitative content analysis. International Journal of Pharmacy Practice 2017;26:302–9. doi:10.1111/ijpp.12409. 5. Morecroft CW, Mackridge AJ, Stokes EC, et al. Involving community pharmacists in pharmacy practice research: experiences of peer interviewing. Int J Clin Pharm 2015;37:31–5. doi:10.1007/s11096-014-0061-4. 6. NIHR. Delivering health research in the community. 2022. https://www.nihr.ac.uk/ partners-and-industry/industry/run-your-study-in-the-nhs/delivering-research-in-the-community.htm#two (accessed 8 Mar 2023). 7. The Royal Pharmaceutical Society. Research & Evaluation. https://www.rpharms. com/development/research-and-evaluation (accessed 8 Mar 2023). 8. Pharmacy Research UK. About us - Pharmacy Research UK. http://pharmacyresearchuk.org/about-us/ (accessed 8 Mar 2023).