O alargamento da prestação de cuidados de saúde caracteriza o futuro da farmácia e de um modelo de prestação de cuidados centrado na pessoa, baseado em valor e onde resultados como a adesão à terapêutica, o resultado clínico e o nível de satisfação da pessoa são mensuráveis, monitorizados e valorizados.^1-3

À medida que o nosso sistema de saúde transita de cuidados com base em honorários fixos para remuneração baseada nos resultados em saúde, as farmácias expandem as suas oportunidades para estabelecerem parcerias sustentáveis com entidades financiadoras (privadas ou públicas) ou outras entidades que sejam relevantes na prestação de cuidados de saúde essenciais, de qualidade e eficientes. No entanto, as farmácias têm de encontrar um equilíbrio sustentável entre o tempo alocado e os recursos necessários, analisando as necessidades efetivas para a prestação de cuidados de saúde de qualidade e os meios de remuneração desses serviços. A implementação de modelos operacionais, que se centram no envolvimento das pessoas, são os que colocam os farmacêuticos numa melhor posição para oferecer cuidados clinicamente relevantes e financeiramente sustentáveis, à medida que o mercado se desloca para cuidados baseados em valores.

A melhoria do sistema de saúde, com base na alteração do modelo de prestação de cuidados, deve ser ajustada e promover a equidade de acesso a pessoas em condições desfavoráveis e que enfrentam vários obstáculos no acesso à saúde. Face a esta necessidade, a literatura evidencia fatores que devem ser tidos em consideração, na implementação de um modelo de cuidados baseado em valor, nomeadamente:

1) criação de uma cadeia de valor adequada;
2) infraestruturas de acesso partilhadas;
3) alinhamento entre a prestação de cuidados de saúde com o contexto externo; e
4) conceção de um sistema que alcance um equilíbrio entre a sustentabilidade financeira e um acesso comunitário equitativo.

A criação de uma cadeia de valor contínua inicia-se na prevenção e termina na monitorização e gestão das condições das pessoas, pelo que as infraestruturas de acesso partilhadas permitem distribuir e integrar a prestação de cuidados de saúde, entre os diferentes locais.⁴

Desta forma, é essencial promover e desenvolver os serviços de saúde prestados pelas farmácias (ex. adesão à terapêutica), com medição dos resultados em saúde, da experiência e preferência da pessoa, alargando e ajustando os serviços de acordo com as necessidades da população e com uma proposta de valor para o sistema de saúde.

Devem ser promovidos modelos complementares de financiamento da rede de farmácias baseados no princípio de value-based healthcare (VBHC), nomeadamente em serviços de avaliação de novas tecnologias em saúde. Os decisores políticos e demais agentes do ecossistema de saúde devem ser sensibilizados para as necessárias alterações a nível legislativo, que permitam, através destes modelos complementares de financiamento promotores de uma gestão racional dos recursos, contribuir para a sustentabilidade económica e financeira das farmácias no país, evidenciando os resultados em saúde alcançados pela rede para o sistema de saúde e a contribuição para a sustentabilidade do mesmo. Para o sucesso deste modelo, é necessário proceder à criação de parcerias, de forma centralizada ou descentralizada com municípios e seguradoras, de forma a reforçar as ações coordenadas em prevenção e promoção de saúde e bem-estar da população.

Para que a implementação de modelos de VBHC tenha sucesso, torna-se necessária a criação de uma instituição central que estabeleça e reveja as orientações definidas, avalie o impacto da intervenção na comunidade nas dimensões de prestação de cuidados, económica e ética, e que suporte financeiramente o investimento necessário à investigação, de forma a colmatar as lacunas de conhecimento, disponibilizando ao país as ferramentas necessárias para a implementação de um modelo de cuidados de saúde baseados em valor.⁴