Dimensão II

A segurança da pessoa com doença, nomeadamente a prevenção de danos não intencionais ou inesperados durante a prestação de cuidados de saúde, é uma preocupação central dos sistemas de saúde.1 Globalmente, cerca de quatro em cada dez pessoas podem sofrer dano no âmbito da prestação de cuidados de saúde primários ou de ambulatório. Cerca de 80% deste dano causado é evitável. Os erros mais prejudiciais estão relacionados com o diagnóstico, prescrição e uso de medicamentos, sendo estes os mais frequentes.1,2

A par de um sistema de saúde com recursos limitados e pouco coordenados, acresce o facto de vivermos numa sociedade em que a população está cada vez mais envelhecida e, consequentemente, ser mais provável viver com múltiplas doenças e tomar mais medicamentos, aumentando o risco de dano.3,4 A deteção precoce de erros associados à medicação é um fator predominante para evitar consequências que advêm dos efeitos adversos da sua ocorrência.4 Um processo de utilização segura de medicamentos requer um trabalho de equipa cooperativo entre a pessoa que vive com doença e os profissionais de saúde que a acompanham. A prestação de cuidados farmacêuticos deve ser cada vez mais orientada para a pessoa, através da identificação, resolução ou prevenção de problemas associados à medicação.5,6

Tendo como objetivo tornar a prestação de cuidados de saúde mais segura e minimizar os danos às pessoas, deve ser promovida e operacionalizada uma cultura de identificação, registo, análise e gestão dos riscos e incidentes que possam resultar da prestação de cuidados de saúde.3 Torna-se assim fundamental fomentar, nas organizações de saúde, procedimentos de abertura e partilha de informação entre profissionais, onde prevaleça a confiança.3,5

Neste sentido, como parte integrante e fundamental do sistema de saúde, as farmácias comunitárias contribuem para a segurança das pessoas, garantindo que a utilização dos medicamentos é eficaz e segura.5 O desenvolvimento dos sistemas de informação utilizados nas farmácias comunitárias pode ser um bom suporte à implementação de uma cultura de notificação, assente na identificação e intervenção em situações relacionadas com medicação, tais como sobredosagens, reações adversas, interações, cumprimento ou ineficácia da terapêutica.4,6

Um exemplo a considerar será a notificação de reações adversas a medicamentos pelos farmacêuticos para o sistema de farmacovigilância. Segundo o Infarmed, “a farmacovigilância visa melhorar a segurança dos medicamentos, em defesa do utente e da saúde pública, através da deteção, avaliação e prevenção de reações adversas a medicamento(s)”.3 Estudos realizados nesta temática mostram que, comparativamente às notificações efetuadas pelos utentes, a qualidade dos relatórios de notificação aumenta quando o seu preenchimento é realizado por profissionais de saúde com conhecimentos em farmacologia, ou seja, farmacêuticos, médicos ou enfermeiros, entre outros. Neste sentido, os sistemas de informação utilizados na farmácia comunitária devem poder evoluir e permitir a documentação e extração de relatórios de notificação.6

A compreensão da cultura de segurança nas farmácias comunitárias é essencial para a melhoria da qualidade organizacional, através do redireccionamento do esforço das equipas para áreas-chave que necessitam de intervenção, sensibilizando as equipas para estas temáticas.

Esta necessidade ganha relevância à medida que as farmácias comunitárias continuam a expandir o seu papel no sistema de saúde, aumentando a sua intervenção na prestação de serviços de saúde.5

Defende-se, assim, que sejam criadas condições que encorajem e promovam o envolvimento ativo dos farmacêuticos, nas farmácias comunitárias, no processo de gestão de medicação em segurança.6

1. Shalviri G. Medication Without Harm. Journal of Pharmaceutical Care Published Online First: 2023. doi:10.18502/jpc.v11i1.12632. 2. Auraaen A, Slawomirski L, Klazinga N. The economics of patient safety in primary and ambulatory care: Flying blind. Paris: : Organisation for Economic Co-Operation and Development (OECD) 2018. doi:10.1787/baf425ad-en. 3. International Pharmaceutical Federation (FIP). Patient safety. Pharmacists’ role in medication without harm. The Hague: 2020. https://www.fip.org/file/4757. 4. Medication Safety in Polypharmacy. Geneva: 2019. 5. Aboneh EA, Stone JA, Lester CA, et al. Evaluation of Patient Safety Culture in Community Pharmacies. J Patient Saf 2020;16:e18–24. doi:10.1097/PTS.0000000000000245. 6. Toklu HZ, Mensah E. Why do we need pharmacists in pharmacovigilance systems? Online J Public Health Inform 2016;8:e193–e193. doi:10.5210/ojphi.v8i2.6802.

Promoção de uma cultura de segurança nas farmácias comunitárias, assente na intervenção do farmacêutico, através da identificação, registo e comunicação ao médico de situações de falha de segurança relacionadas com o medicamento.

Promoção de práticas que reforcem a intervenção do farmacêutico na área da farmacovigilância e incentivo à notificação de eventos ao sistema nacional de farmacovigilância.

Desenvolvimento das ferramentas tecnológicas de suporte à intervenção farmacêutica no contexto da farmacovigilância, integradas com os sistemas de apoio à atividade diária das farmácias.

Eixos de desenvolvimento

1 Afirmação da farmácia enquanto espaço de saúde e bem-estar na jornada de saúde da pessoa

2 Transformação digital ao serviço das farmácias e das pessoas

3 Geração de evidência científico-profissional em saúde

4 Valorização das equipas e da profissão

5 Promoção da coesão territorial como resposta aos determinantes sociais em saúde

6 Promoção da sustentabilidade económico-financeira

Eixos de desenvolvimento

1 Afirmação da farmácia enquanto espaço de saúde e bem-estar na jornada de saúde da pessoa

2 Transformação digital ao serviço das farmácias e das pessoas

3 Geração de evidência científico-profissional em saúde

4 Valorização das equipas e da profissão

5 Promoção da coesão territorial como resposta aos determinantes sociais em saúde

6 Promoção da sustentabilidade económico-financeira

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