Dimensão I

Há um reconhecimento crescente de que a integração dos cuidados pode melhorar os resultados em saúde das pessoas, dando resposta a lacunas específicas do sistema de Saúde e intervindo em situações de isolamento social.1,2

Os sistemas de Saúde que têm investido ativamente no desenvolvimento dos cuidados de saúde primários – ponto de contacto crítico para responder às necessidades das pessoas – têm demonstrado melhores resultados em saúde, um aumento da sustentabilidade financeira e melhorias na equidade de acesso. As tendências internacionais sugerem que os cuidados de saúde primários estão a evoluir para uma abordagem integrada, através da incorporação de conceitos e serviços como a interdisciplinaridade, cuidados de saúde integrados, prevenção, autocuidados e autogestão da saúde, o que pode otimizar a prestação de cuidados de saúde à população e contribuir para a sustentabilidade do sistema de Saúde.1

A orientação dos sistemas de Saúde para as pessoas e as suas necessidades reflete-se nas farmácias comunitárias, através da crescente prestação de serviços. Esta mudança de paradigma tem sido impulsionada principalmente pela reestruturação de políticas governamentais, tendo como principal objetivo a equidade de acesso da população a cuidados de saúde adequados.

A farmácia comunitária pode e deve atuar na disponibilização de serviços, essenciais e diferenciados, de forma articulada com os restantes níveis de cuidados de saúde, procurando a adaptação às necessidades específicas da população do território em causa e a complementaridade às restantes estruturas de Saúde.

Tal poderá ser atingido com novos modelos, projetos e serviços de apoio ao cidadão na área da Saúde, garantindo, por um lado, o acesso facilitado pelas pessoas, dando resposta a lacunas específicas, e por outro, a remuneração pela intervenção das farmácias junto das populações mais isoladas, garantindo a sua sustentabilidade.1-3

No Reino Unido, no final do ano de 2008, criaram-se as “Healthy Living Pharmacies” que tinham como objetivo central o alargamento do espetro de atuação das farmácias comunitárias, providenciando, adicionalmente, informação e orientação às pessoas para gestão da sua saúde e bem-estar e pela promoção de estilos de vida saudáveis, por exemplo. Os resultados desta abordagem apresentaram uma percentagem de satisfação das pessoas de 98%; um aumento em 140% de participantes nas sessões de cessação tabágica, onde 70% dos participantes eram portadores de doenças respiratórias, apresentando melhorias na sua condição de saúde; e um aumento de 23% no número de participantes nos programas de gestão do peso.4-6

Em Itália, as farmácias comunitárias, têm vindo a promover a equidade no acesso a cuidados de saúde, funcionando como pontos de acesso da comunidade aos serviços de saúde. Ao deslocar-se à farmácia, o cidadão pode proceder ao agendamento de diversos serviços, nomeadamente: consulta para um especialista no SNS; exames complementares de diagnóstico num laboratório ou prestador privado de serviços de saúde; administração da vacina contra a COVID-19; ou teleconsulta. Esta iniciativa contribui para que os cidadãos com baixa literacia digital tenham um acesso ágil ao sistema de saúde através da sua farmácia de preferência.6

Em Portugal, os serviços prestados atualmente pelas farmácias comunitárias traduzem-se num aumento de 8,3% na qualidade de vida (QoL) das pessoas bem como a uma poupança económica até 879,6 milhões de euros, que inclui 342,1 milhões de euros em serviços farmacêuticos não remunerados e 448,1 milhões de euros poupados no consumo de recursos. Adicionalmente, estima-se a poupança de 7,7 milhões de euros, 2,8 mil euros e 81.721 mil euros em consultas médicas, episódios de urgência e internamentos, respetivamente.3

A necessidade de respostas locais e articuladas tem sido refletida pela expansão da criação de Balcões SNS24, com o objetivo de facilitar e promover o acesso aos serviços digitais e de telessaúde, em condições de maior proximidade e redução de barreiras em lidar com os meios técnicos ou mesmo pela sua inexistência. Pese embora o projeto esteja atualmente circunscrito a entidades públicas e do setor social, o envolvimento das farmácias poderá significar a presença de balcões em potencialmente mais 218 municípios, reforçando a estratégia de proximidade associada ao projeto.

A sinergia entre as funcionalidades do SNS24 e da sua articulação com os serviços disponibilizados pelas farmácias comunitárias, bem como o acesso mediado por um profissional de saúde sujeito a regras deontológicas, são ativos que consideramos essenciais na resposta integrada em saúde que se pretende oferecer às populações, em particular, as mais isoladas. A ação do farmacêutico no suporte à autogestão da saúde e à mudança comportamental das pessoas deve ser alargado, de modo a capitalizar a proximidade do mesmo às pessoas e à comunidade, maximizando a prevenção e a intervenção precoce na doença. O reforço das competências em Saúde pública dos farmacêuticos trará benefícios claros para o sistema, especialmente pela realização de intervenções mais efetivas em articulação com seguradoras, autarquias e o SNS.3-6

1. Urionagüena A, Piquer-Martinez C, Gastelurrutia MÁ, et al. Community pharmacy and primary health care - Types of integration and their applicability: A narrative review. Research in Social and Administrative Pharmacy 2023;19:414–31. doi:10.1016/j. sapharm.2022.10.007. 2. Lake JD, Rosenberg-Yunger ZRS, Dainty KN, et al. Understanding perceptions of involving community pharmacy within an integrated care model: a qualitative study. BMC Health Serv Res 2020;20:396. doi:10.1186/s12913-020-05237-y. 3. Félix J, Ferreira D, Afonso-Silva M, et al. Social and economic value of Portuguese community pharmacies in health care. BMC Health Serv Res 2017;17:1–12. doi:10.1186/ S12913-017-2525-4/TABLES/2. 4. OECD (2021). Health at a Glance 2021: OECD Indicators. 2021. doi:10.1787/ae3016b9-en. 5. El-Den S, Collins JC, Chen TF, et al. Pharmacists’ roles in mental healthcare: Past, present and future. Pharm Pract (Granada) 2021;19:2545. doi:10.18549/PharmPract.2021.3.2545. 6. Pharmaceutical Group of the European Union (PGEU). Position Paper on Digital Health. PGEU. 2021. https://www.pgeu.eu/wp-content/uploads/2019/03/PGEU-Position-Paper-on-Digital-Health.pdf (accessed 7 Jul 2023).

Criação de programas colaborativos, em articulação com Seguradoras, Autarquias e o SNS, no âmbito dos serviços passíveis de serem prestados em Farmácia;

Definir o modelo de participação das farmácias no projeto Balcões SNS24, através da categorização das funcionalidades que as farmácias podem disponibilizar às pessoas neste contexto.

Eixos de desenvolvimento

1 Afirmação da farmácia enquanto espaço de saúde e bem-estar na jornada de saúde da pessoa

2 Transformação digital ao serviço das farmácias e das pessoas

3 Geração de evidência científico-profissional em saúde

4 Valorização das equipas e da profissão

5 Promoção da coesão territorial como resposta aos determinantes sociais em saúde

6 Promoção da sustentabilidade económico-financeira

Eixos de desenvolvimento

1 Afirmação da farmácia enquanto espaço de saúde e bem-estar na jornada de saúde da pessoa

2 Transformação digital ao serviço das farmácias e das pessoas

3 Geração de evidência científico-profissional em saúde

4 Valorização das equipas e da profissão

5 Promoção da coesão territorial como resposta aos determinantes sociais em saúde

6 Promoção da sustentabilidade económico-financeira

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