Dimensão III
Conhecimento e regulação ao serviço da sociedade
A participação da academia, das entidades reguladoras, dos agentes políticos e da sociedade em geral nos temas da saúde é da maior importância para a evolução do setor da farmácia. O contínuo envolvimento da farmácia comunitária na geração de conhecimento técnico-científico e de evidência em mundo-real, assim como o seu desenvolvimento regulamentar e normativo, são temas abordados nesta terceira e última dimensão.
Doenças Crónicas
e Multimorbilidade.
A nível mundial, as organizações de saúde enfrentam vários desafios para acompanhar as crescentes exigências da comunidade a nível da prestação de cuidados de saúde.
As doenças crónicas são a maior causa de morte e de incapacidade e a gestão destas condições está entre os desafios prementes dos sistemas de saúde a nível mundial. Cada vez mais há necessidade de desenvolver estratégias, políticas integradas e intervenções multidisciplinares que permitam gerir, de forma mais eficaz, o aumento de pessoas com multimorbilidades.
Nos últimos anos, tem-se verificado um consenso entre académicos, organizações profissionais e entidades reguladoras sobre a necessidade de alargamento do papel dos farmacêuticos, nas farmácias comunitárias. É reconhecido que estes contribuem para o uso correto, seguro e efetivo dos medicamentos, resultando numa melhoria global da saúde da comunidade, reduzindo os eventos adversos relacionados com a medicação e promovendo uma melhor adesão à terapêutica, o que, por sua vez, pode contribuir para redução das hospitalizações e readmissões, reforçando, ao mesmo tempo, a prestação integrada de cuidados de saúde.
Intervenção e Investigação
em Farmácia.
A mudança de paradigma para um sistema de saúde, assente num modelo de prestação de cuidados de saúde baseados em valor, incentivou os prestadores de saúde a implementar estratégias que, simultaneamente, impactem a melhoria dos resultados de saúde da população, enquanto minimizam os custos a jusante.
Cada vez mais, pelo alargamento da prestação de serviços à população, as farmácias têm vindo a contribuir para uma gestão eficaz da saúde das populações. Isto contribui para que as farmácias se encontrem numa posição privilegiada para fazer investigação e gerar evidência, essencial à melhoria da prestação de cuidados de saúde à pessoa.
COLABORAÇÃO INTERPROFISSIONAL E ACESSO A NOVAS TERAPÊUTICAS.
De acordo com a Estratégia da Rede Europeia de Agências de Medicamentos para 2025124, áreas de intervenção como a disponibilidade e acessibilidade aos medicamentos, análise de dados, ferramentas digitais, transformação digital e inovação são prioritárias face aos desafios atuais e futuros em saúde. Destaca ainda que é fundamental e imperativa a colaboração multidisciplinar entre todos os intervenientes do sistema (reguladores, autoridades e profissionais de saúde, pessoas com doença e os seus familiares e cuidadores, academia e indústria farmacêutica), na discussão de novas formas de garantir o acesso a terapêuticas personalizadas e a sua sustentabilidade financeira.
Na sua base, os países desenvolvidos possuem políticas que têm como objetivo primordial promover a equidade no acesso aos cuidados de saúde e ao medicamento, independentemente da condição socioeconómica da pessoa. Contudo, face a um aumento de despesa em medicamentos e ao aparecimento no mercado de medicamentos inovadores de elevado preço, é criada uma enorme pressão na sustentabilidade financeira, resultante da introdução destas terapêuticas nos serviços de saúde. Assim sendo, a inovação terapêutica pode gerar iniquidades no acesso, as quais podem ser mitigadas através de uma abordagem em que a prevenção é um ponto central para a promoção da saúde e equidade entre grupos socioeconómicos diferentes.