Dimensão I

A evolução digital acelerou o ritmo a que as novas tecnologias estão a transformar o setor da saúde, sendo uma das principais tendências que moldam os sistemas de saúde europeus. Os farmacêuticos comunitários reconhecem a importância desta evolução e estão preparados para enfrentar os desafios e oportunidades decorrentes da digitalização nos cuidados de saúde.1-4

Na Europa, os farmacêuticos consideram que a introdução de novas tecnologias, inovadoras e automatizadas, é uma ferramenta útil para apoiar e complementar a sua prática diária, nomeadamente, no aconselhamento especializado às pessoas, promovendo a disponibilização de serviços mais eficientes, sustentáveis e de qualidade. A dispensa de medicamentos já é realizada com o apoio dos sistemas informatizados, que disponibilizam sistemas de alerta, por exemplo, para a deteção de potenciais interações medicamentosas, promovendo o uso seguro do medicamento.4,5 As ferramentas incluem o registo de medições de parâmetros biométricos e autoavaliações.

Face à necessidade de incluir a pessoa no centro da sua jornada de saúde, torna-se fundamental considerar a natureza cíclica da jornada da pessoa e da sua interação com o ecossistema de saúde, podendo reforçar a atuação profissional, na farmácia, através de um papel mais ativo na recolha de informação, na avaliação e na análise da informação recolhida.2 Atualmente, as pessoas estão interligadas através de dispositivos móveis de tecnologias complementares em aspetos diários da sua vida. O setor da Saúde deverá alavancar-se nesta tecnologia já existente para promover o envolvimento das pessoas na sua saúde, especialmente pessoas idosas ou em situações de isolamento social ou geográfico.2,4,5

A quantidade de dados recolhidos nos sistemas de saúde por todo o mundo contribuiu para a implementação generalizada de registos de saúde eletrónicos e de sistemas de prescrição eletrónica. Na comunidade, os farmacêuticos estão na vanguarda destes desenvolvimentos em vários países europeus. Os farmacêuticos são cada vez mais abordados pelas pessoas com o objetivo de terem acesso a mais ferramentas que lhes permitam interpretar a sua saúde ou outras fontes de recolha de dados de saúde, através de dispositivos de monitorização remota.5

A tecnologia pode trazer variados benefícios para as pessoas e permitir aos farmacêuticos a eliminação de tarefas de menor valor acrescentado, libertando tempo para que se dediquem a serviços clínicos. Estudos realizados por investigadores nos Países Baixos demonstram que a monitorização com recurso a avisos eletrónicos (tais como mensagens de texto) melhoram a adesão à terapêutica em 14%, sendo que este método de notificação é amplamente utilizado na prática farmacêutica em toda a Europa, como por exemplo através da “Mobile Pharmacy App” na Áustria, “Online Prescription Overview App” na Dinamarca, “Observia” e “DO-Pill” em França.1,6,7

Vários países já têm implementadas soluções de telemonitorização que permitem um acompanhamento contínuo e holístico da pessoa. Em Espanha, o serviço de revisão terapêutica e acompanhamento pode ser realizado e registado através do “Bot PLUS 2.0”. Este software permite aos farmacêuticos comunitários gerir a terapêutica completa da pessoa, incluindo a deteção de possíveis problemas relacionados com a medicação (tais como eventos adversos ou interações medicamentosas), a monitorização da adesão à terapêutica e obter um registo da recolha de dados juntamente com notas que advenham do acompanhamento da pessoa. No Reino Unido, o “New Medicine Service” permite a realização de uma teleconsulta farmacêutica (para pessoas com doença crónica aquando da introdução de novos medicamentos na sua terapêutica), tendo demonstrado o aumento da adesão à terapêutica em 10%. Na Dinamarca, é disponibilizado o “Medical Reminder App” para pessoas que desejam ser notificadas com lembretes para toma de medicação, permitindo também o registo de outros dados de saúde, tais como os níveis glicémicos, a pressão arterial ou o peso, podendo enviar a informação por e-mail, caso assim o pretenda.1,6,7

Face aos benefícios inerentes para as pessoas e farmacêuticos, propõe-se a disponibilização de serviços e produtos de monitorização com criação de alarmísticas, estabelecendo parcerias com outras entidades e recorrendo a dispositivos médicos e tecnologias, assegurando também o acompanhamento pós-dispensa através de um contacto de proximidade, periódico e ao longo do tempo com a pessoa.

A integração do processo de telemonitorização nos softwares das farmácias é um passo essencial na concretização do potencial desta tecnologia, ao permitir o acompanhamento contínuo e holístico da pessoa, por parte da farmácia.

No entanto, é expectável que a adoção destas tecnologias apresente algumas barreiras e desafios relativamente à recolha de dados em saúde e à utilização de informação sensível das pessoas. De modo a não comprometer a confiança das pessoas nos sistemas de saúde, é essencial que a recolha de dados seja realizada em conformidade com as disposições legais em vigor e que as pessoas participem de forma ativa no processo de decisão da utilização dos seus dados. Neste sentido, e sendo a farmácia comunitária o ponto mais próximo no acesso aos cuidados de saúde na Europa, os farmacêuticos devem garantir que as pessoas estão bem informadas sobre a forma como os seus dados serão utilizados, com o objetivo de melhorar a segurança e a qualidade do seu tratamento.4,5

1. Pharmaceutical Group of the European Union (PGEU). PGEU Statement: eHealth Solutions in European Community Pharmacies. 2016. 2. Abubakar A, Sinclair J. The Emerging Role of Community Pharmacists in Remote Patient Monitoring Services. Pharmacy (Basel) 2020;8:166. doi:10.3390/pharmacy8030166. 3. Rezahi S, Mathers A, Patel P, et al. Telehealth in community pharmacy: A new ‘place’ for the appointment-based model given COVID-19 and the future of health care. Can Pharm J (Ott) 2021;154:363–7. doi:10.1177/17151635211014922. 4. Pharmaceutical Group of the European Union (PGEU). Position Paper on Big Data & Artificial Intelligence in Healthcare. 2019. http://europa.eu/rapid/press-release_IP-18- 3364_en.htm5. Pharmaceutical Group of the European Union (PGEU). Position on Affordability of Medicines and Health Systems Sustainability. 2020. 6. The Pharmaceutical Society of Ireland (PSI). Future Pharmacy Practice in Ireland. Meeting Patients’ Needs. Dublin: 2016. 7. Pharmaceutical Group of the European Union (PGEU). Position Paper on Digital Health. PGEU. 2021.https://www.pgeu.eu/wp-content/uploads/2019/03/PGEU-Position-Paper-on-Digital-Health.pdf (accessed 7 Jul 2023).

Disponibilização de serviços e produtos de telemonitorização com criação de alarmísticas, estabelecendo parcerias com outras entidades e recorrendo a dispositivos médicos e tecnologias;

Acompanhamento pós-dispensa através de um contacto de proximidade, periódico e ao longo do tempo com a pessoa;

Acesso ao Registo de Saúde Eletrónico da pessoa pelo farmacêutico e capacidade de registo de informação.

Eixos de desenvolvimento

1 Afirmação da farmácia enquanto espaço de saúde e bem-estar na jornada de saúde da pessoa

2 Transformação digital ao serviço das farmácias e das pessoas

3 Geração de evidência científico-profissional em saúde

4 Valorização das equipas e da profissão

5 Promoção da coesão territorial como resposta aos determinantes sociais em saúde

6 Promoção da sustentabilidade económico-financeira

Eixos de desenvolvimento

1 Afirmação da farmácia enquanto espaço de saúde e bem-estar na jornada de saúde da pessoa

2 Transformação digital ao serviço das farmácias e das pessoas

3 Geração de evidência científico-profissional em saúde

4 Valorização das equipas e da profissão

5 Promoção da coesão territorial como resposta aos determinantes sociais em saúde

6 Promoção da sustentabilidade económico-financeira

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