Quer seja por evidência de contraindicação ou por ausência de dados sobre a sua eficácia e segurança (pela não inclusão em ensaios clínicos), alguns dos medicamentos disponíveis, nas apresentações comercializadas, não se encontram indicados a todos os grupos populacionais, particularmente os grupos pediátricos ou com algum tipo de intolerância. Neste sentido, deve ser promovida a equidade de acesso a uma terapêutica efetiva, por toda a população, através do desenvolvimento de terapêuticas personalizadas.1,2
Nas últimas décadas, as áreas das terapêuticas personalizadas e da farmacogenómica avançaram substancialmente, devido ao seu impacto na melhoria da individualização terapêutica, através da otimização do processo de identificação da terapêutica mais eficaz para a pessoa. A farmacogenética é uma área da ciência que investiga a forma como os genes afetam uma resposta medicamentosa, permitindo prever a resposta da pessoa a um determinado fármaco, a probabilidade de efeitos adversos e a dose ideal. Sendo um facto estabelecido que a variabilidade na resposta medicamentosa se deve a fatores genéticos, além de outros, como idade ou estado de saúde, a utilização desta ciência pode ajudar a selecionar a terapêutica mais eficaz em subpopulações com a mesma doença, mas com perfis genéticos diferentes.3,4
A profissão farmacêutica está em constante mudança e exige que os farmacêuticos adaptem as suas capacidades e conhecimentos técnicos, à medida que os avanços científicos continuam a transformar a prática.
A área da medicina personalizada oferece múltiplas oportunidades aos farmacêuticos que – sendo, por excelência, os profissionais de saúde mais versados nas ciências fundamentais da farmacocinética, farmacodinâmica e farmacologia clínica –, estão particularmente capacitados para promover a medicina personalizada como uma ferramenta clínica a adotar. Em complementaridade, a produção de medicamentos manipulados na farmácia comunitária é um fator importante para a saúde pública das populações, sendo necessário reforçar a sua preponderância na atividade das farmácias portuguesas, assegurando a qualidade e a segurança destes produtos.3-5
A adoção da farmacogenética enquanto ferramenta clínica farmacêutica permitirá incrementar o contributo da farmácia comunitária para a personalização das terapêuticas.
1. Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS). Relatório de Primavera 2022: E agora? 2022. https://www.opssaude.pt/relatorios/relatorio-de-primavera-2022/. 2. European Medicines Agencies Network (EMA/HMA). European medicines agencies network strategy to 2025: Protecting public health at a time of rapid change. 2020. https://www.ema.europa.eu/en/documents/report/european-union-medicines-agencies-network-strategy-2025-protecting-public-health-time-rapid-change_en.pdf. 3. Kennedy MJ. Personalized medicines – are pharmacists ready for the challenge? Integr Pharm Res Pract 2018;Volume 7:113–23. doi:10.2147/iprp.s133083. 4. Bermejo-Vicedo T, Gorgas MQ, Vicedo TB. Farmacoterapia personalizada: Un nuevo reto para los servicios de farmacia. FARMACIA HOSPITALARIA 2021;45:3–4. doi:10.7399/ fh.13044. 5. Quinaz Romana G, Kislaya I, Salvador MR, et al. Multimorbilidade em Portugal: Dados do Primeiro Inquérito Nacional de Saúde com Exame Físico. Acta Med Port 2019;32:30–7. doi:10.20344/amp.11227