Segundo dados apresentados pela FIP Education, há uma necessidade clara e urgente de investimento na capacitação do conhecimento farmacêutico, para atender às necessidades de saúde das populações em todo o mundo. Embora os farmacêuticos estejam na vanguarda da prestação de cuidados de saúde, globalmente, a força profissional farmacêutica enfrenta vários desafios. Assim, e como nenhum sistema de saúde pode funcionar sem recursos humanos, deve ser assegurado que os farmacêuticos tenham acesso a educação e formação adequada.

A atualização técnico-científica dos farmacêuticos e outros profissionais a exercer em farmácia é um determinante crítico para uma prestação de serviços, em contexto comunitário, mais efetiva e com resultados em saúde positivos. As estratégias e iniciativas globais publicadas, reafirmam estes valores e apoiam os decisores políticos e os demais intervenientes na orientação dos esforços para transformação e aperfeiçoamento da educação e formação farmacêutica. O futuro da Saúde e a integridade dos sistemas de saúde estão intimamente ligados às competências e capacidade dos profissionais que os compõem. Além disso, a qualidade da prestação de serviços de saúde depende da capacidade de resposta às necessidades em saúde mais complexas da população. Face a estes fatores, o investimento em educação, formação e desenvolvimento dos profissionais de saúde tornou-se um imperativo global, em particular no âmbito da intervenção farmacêutica.^1,2

O desenvolvimento de um novo paradigma na prática de farmácia comunitária, visando um atendimento mais centrado na pessoa, levou à implementação de serviços de aconselhamento e de cuidados farmacêuticos, exigindo o desenvolvimento de uma intervenção cada vez mais clínica para os farmacêuticos comunitários. Um estudo publicado no início dos anos noventa foi um marco para esta mudança, apontando:

1) a necessidade da prestação de serviços longitudinais à comunidade;
2) o aumento do nível de responsabilidade dos farmacêuticos;
3) o desenvolvimento de relações de cooperação com outros profissionais de saúde, como características fundamentais para este novo posicionamento da farmácia comunitária.³

Com vista a reestruturar a carreira do farmacêutico comunitário, baseando-se na redefinição e clarificação de perfis e responsabilidades, devem ser asseguradas garantias de evolução na carreira. Esta evolução deve estar intrinsecamente associada ao desenvolvimento profissional e à aquisição de novas competências, passando por processos de avaliação frequentes.

Dada a variedade de intervenções do farmacêutico nas farmácias comunitárias, e assumindo-se como uma profissão altamente especializada e qualificada, a definição de uma carreira traduzir-se-á, não só numa maior entrega e responsabilização destes profissionais, como também num aumento na qualidade de serviço prestado e na valorização da profissão.

É de igual importância para concretizar esta visão promover a integração de competências, em diálogo com a Academia, na formação pré e pós-graduada, para uma maior capacitação e uma intervenção clínica mais efetiva em farmácia comunitária.^2,3

Estes são objetivos que beneficiam da consolidação e desenvolvimento da especialidade em farmácia comunitária, aprovada em 2020 pela Ordem dos Farmacêuticos, e do desenvolvimento de novas competências farmacêuticas em curso. De acordo com os dados disponíveis, existem atualmente em exercício 906 especialistas em farmácia comunitária.⁴

A especialização por áreas permitirá aportar maior valor aos serviços prestados por profissionais altamente qualificados. A longo prazo, a diferenciação dos profissionais permitirá a reflexão sobre a metodologia de remuneração, e consequentemente, valorização financeira do profissional especializado.

A atual alteração nos padrões e exigências dos cuidados de saúde está a encaminhar os farmacêuticos comunitários para um processo contínuo de adaptação e para um papel mais avançado nos cuidados às pessoas. Adquirir, desenvolver e manter a competência profissional ao longo da carreira profissional, durante a qual serão encontradas novas e desafiantes responsabilidades profissionais e situações de mudança, é um requisito profissional e ético fundamental para todos os profissionais de saúde, incluindo os farmacêuticos.³