Ao longo dos últimos anos, as questões relacionadas com a saúde mental têm vindo a ganhar relevância nas agendas da saúde, em particular desde a pandemia de COVID-19.
Segundo os dados da OCDE, em 2018, uma em cada seis pessoas na Europa apresentava um problema de saúde mental. O cenário agravou-se no período pandémico, onde a ansiedade e a depressão aumentaram significativamente em todos os países da UE, afetando especialmente os jovens e as mulheres de grupos mais vulneráveis da sociedade e que enfrentam dificuldades financeiras.1
Neste sentido, as perturbações mentais e a crescente procura de apoio à saúde mental têm desafiado os serviços de saúde mental, já parcos e sobrecarregados, resultando em quase metade dos jovens europeus a relatar necessidades não satisfeitas de cuidados de saúde mental em 2022.2 Os desafios identificados na acessibilidade aos cuidados de saúde mental não são recentes e estudos anteriores desenvolvidos pela OCDE demonstram que, previamente à pandemia, já se verificava um elevado número de pessoas com dificuldades de acesso aos cuidados de saúde mental, tendo a pandemia vindo exacerbar estes desafios.2
Assegurar a equidade no acesso a cuidados de saúde é um fator fundamental e crítico de uma sociedade inclusiva, com um sistema de saúde robusto e eficiente, como o é, igualmente, a capacidade de identificar casos de pessoas em risco de isolamento social.
A farmácia comunitária, tirando partido do seu posicionamento na comunidade e da diferenciação dos seus profissionais, deve, assim, atuar na resolução das necessidades em saúde como um todo, incluindo as relacionadas com a saúde mental, identificando necessidades, abordando-as, e recorrendo ao encaminhamento da pessoa as instituições adequadas, se necessário.
Este posicionamento e abordagem por parte da farmácia comunitária, em articulação e colaboração com os restantes serviços de saúde, são fundamentais na promoção ativa da equidade no acesso a cuidados, por um lado, mas também reforçam a sua integração no sistema de saúde, incluindo para a área da saúde mental.3-5
Por outro lado, a prescrição social é um modelo de prescrição não clínico, que incorpora uma abordagem centrada na pessoa e nas questões de saúde mental, psicossociais, ou socioeconómicas, visando abordar os determinantes sociais que afetam negativamente a pessoa e planear, em colaboração com os restantes intervenientes do sistema de saúde, uma estratégia para melhoria do seu bem-estar e inclusão social. Como tal, a prescrição social é uma estratégia emergente no combate às desigualdades em saúde. Os modelos mais frequentemente adotados suportam-se em abordagens através das artes, leitura ou exercício físico.6,7
A evidência disponível tem demonstrado resultados positivos resultantes da prescrição social, para a pessoa e para a comunidade envolvente. A prescrição social foi inicialmente implementada em 2018, no Reino Unido, como uma medida para apoiar as pessoas em isolamento (social ou geográfico). Este processo foi iniciado através da implementação da prescrição social nas “Healthy Living Pharmacies”, tendo os farmacêuticos completado uma formação complementar em saúde pública, saúde mental e bem-estar e estando envolvidos, de forma rotineira, no apoio às comunidades locais envolventes.
A inclusão dos farmacêuticos nas vias de prescrição social alargaria a capacidade de apoiar pessoas com necessidades psicossociais e promoveria um acesso mais equitativo aos serviços de saúde mental.8,9
1. OECD/European Union (2022). Health at a Glance: Europe 2022: State of Health in the EU Cycle. OECD Publishing. 2022. doi:10.1787/507433b0-en. 2. OECD (2021). Health at a Glance 2021: OECD Indicators. 2021. doi:10.1787/ae3016b9-en. 3. Policarpo V, Romano S, António JHC, et al. A new model for pharmacies? Insights from a quantitative study regarding the public’s perceptions. BMC Health Serv Res 2019;19:1– 11. doi:10.1186/s12913-019-3987-3. 4. Pharmaceutical Group of the European Union. Pharmacy 2030: A Vision for Community Pharmacy in Europe. Brussels: 2019. 5. Félix J, Ferreira D, Afonso-Silva M, et al. Social and economic value of Portuguese community pharmacies in health care. BMC Health Serv Res 2017;17:1–12. doi:10.1186/ S12913-017-2525-4/TABLES/2. 6. Chatterjee HJ, Camic PM, Lockyer B, et al. Non-clinical community interventions: a systematised review of social prescribing schemes. Arts & Health 2017;10:97–123. doi:10.1080/17533015.2017.1334002. 7. Taylor DA, Nicholls GM, Taylor ADJ. Perceptions of Pharmacy Involvement in Social Prescribing Pathways in England, Scotland and Wales. Pharmacy (Basel) 2019;7:24. doi:10.3390/pharmacy7010024. 8. El-Den S, Collins JC, Chen TF, et al. Pharmacists’ roles in mental healthcare: Past, present and future. Pharm Pract (Granada) 2021;19:2545. doi:10.18549/PharmPract.2021.3.2545. 9. Pharmaceutical Group of the European Union (PGEU). Position Paper on Digital Health. PGEU. 2021. https://www.pgeu.eu/wp-content/uploads/2019/03/PGEU-Position-Paper-on-Digital-Health.pdf (accessed 7 Jul 2023).