A literatura tem demonstrado que, frequentemente, as pessoas não seguem as instruções dos profissionais de saúde, especialmente quando referentes a tomas de medicação crónica.1
A adesão ao regime terapêutico é fundamental para o sucesso de qualquer tratamento, sendo um fator-chave na gestão eficaz da doença, especialmente no caso das doenças crónicas. No entanto, estima-se que o grau de adesão às terapêuticas crónicas seja apenas de 50%, ou seja, que um em cada dois indivíduos sujeitos a terapêutica crónica não tome corretamente a sua medicação.1 A baixa adesão à terapêutica constitui um importante problema de saúde pública que pode determinar o agravamento do estado de saúde da pessoa, redução da qualidade de vida, maior utilização dos recursos em saúde, e aumento da morbilidade e mortalidade da população.
Uma meta-análise recente concluiu que cerca de 43% dos adultos com multimorbilidade demonstra algum tipo de não-adesão à terapêutica.2 As razões associadas variam desde motivos económicos ou de acesso à prescrição, que impedem a pessoa de adquirir a terapêutica (não-adesão primária), a questões relacionadas com esquecimento, erros e trocas com outros medicamentos, ou crenças e perceções em relação ao mecanismo de ação, efetividade ou segurança dos medicamentos (não-adesão secundária).3
Dada a diversidade de determinantes, têm sido desenvolvidas várias estratégias, com o objetivo de identificar e abordar a barreira em causa e melhorar, de forma efetiva, a adesão da pessoa à terapêutica instituída. A comunicação entre a pessoa e o profissional de saúde tem sido indicada como um fator estreitamente relacionado com a adesão à terapêutica, podendo constituir uma barreira, mas também um facilitador da adesão às recomendações pelo utente. Neste sentido, a comunicação pode ser vista como uma ferramenta utilizada pelo farmacêutico para aumentar a literacia em saúde e, desta forma, envolver a pessoa nas tomadas de decisão sobre a sua medicação.4–6
A adoção de um estilo de comunicação colaborativa entre a pessoa, o médico prescritor e o farmacêutico é apontado como tendo uma influência positiva nos resultados clínicos associados ao tratamento. De modo a respeitar e promover a autonomia da pessoa e envolvê-la na tomada de decisão devem ser utilizados elementos de comunicação centrados no utente, procurando satisfazer as suas preferências e considerar as suas atitudes sobre a terapêutica prescrita. Estes elementos de comunicação incluem a intervenção farmacêutica no momento da primeira dispensa, através da análise de crenças pessoais, preocupações, expectativas e necessidades face à medicação que irá iniciar.4,5
Os principais objetivos de uma comunicação efetiva em contexto de farmácia comunitária são o apoio à resolução das necessidades da pessoa e a promoção da adesão à terapêutica. No contexto da primeira dispensa de um medicamento, o posicionamento do farmacêutico no processo – intermediando a prescrição e a toma/utilização do medicamento – torna-o um mediador essencial dos conhecimentos e crenças da pessoa em relação ao medicamento que vai iniciar. Idealmente, a intervenção do farmacêutico deve ser capaz de colmatar as eventuais dificuldades de comunicação do processo até então. Desta forma, contribui positivamente para o aumento da literacia da pessoa sobre a sua condição de saúde e terapêutica. A evidência demonstra que existe uma correlação positiva entre o aumento do conhecimento da pessoa sobre a terapêutica e a adesão à mesma.4,5
A intervenção farmacêutica, nas farmácias comunitárias, no momento da instituição de uma nova terapêutica para uma condição crónica e de longa duração, através de um serviço estruturado e com um público-alvo definido, permitirá responder à complexidade da adesão a novas terapêuticas.
Através da implementação deste serviço, o farmacêutico, durante um período definido, promove a utilização segura e efetiva do novo medicamento prescrito e, se necessário, referencia situações clinicamente relevantes (eventos adversos, falta de eficácia, etc.). Outro objetivo desta intervenção é capacitar a pessoa e promover a partilha de poder sobre a decisão.
1. Kvarnstrom K, Airaksinen M, Liira H. Barriers and facilitators to medication adherence: a qualitative study with general practitioners. BMJ Open 2018;8:e015332. doi:10.1136/BMJOPEN-2016-015332. 2. Foley L, Larkin J, Lombard-Vance R, et al. Prevalence and predictors of medication non-adherence among people living with multimorbidity: a systematic review and meta-analysis. BMJ Open 2021;11:e044987–e044987. doi:10.1136/bmjopen-2020-044987. 3. Joshi MP, Clark A, Ludman M. Systems-based Approaches to Improving Medication Adherence. Arlington, VA: : Submitted to the US Agency for International Development by the Systems for Improved Access to Pharmaceuticals and Services (SIAPS) Program. Arlington: VA:Management Sciences for Health 2016. https://www.researchgate.net/publication/353418526%0Ahttps://www.researchgate.net/profile/Mohan-Joshi-6/publication/353418526_Systems-based_Approaches_to_Improving_Medication_Adherence/ links/60fb516d0c2bfa282af8a09e/Systems-based-Approaches-to-Improving-M. 4. Van Hulten R, Blom L, Mattheusens J, et al. Communication with patients who are dispensed a first prescription of chronic medication in the community pharmacy. Patient Educ Couns 2011;83:417–22. doi:10.1016/j.pec.2011.05.020. 5. Luetsch K, Burrows J. From transitions to transformation – A study of pharmacists developing patient-centered communication skills. Research in Social and Administrative Pharmacy 2018;14:686–94. doi:10.1016/j.sapharm.2017.08.003. 6. Kovačević SV, Miljković B, Vučićević K, et al. Elderly polypharmacy patients’ needs and concerns regarding medication assessed using the structured patient-pharmacist consultation model. Patient Educ Couns 2017;100:1714–9. doi:10.1016/j.pec.2017.05.001.